“O Principezinho”, é a obra com a qual Saint-Exupéry atingiu imortalidade literária, foi inicialmente publicada nos Estados Unidos em 1943 em Inglês e Português, mas só chegou ao mercado francês três anos mais tarde.
Este livro relata-nos as aventuras do menino que vive no asteróide B612 e revela a sabedoria da infância a um piloto que aterra de emergência no deserto do Sahara.
É uma história simples, mas com muitos detalhes, essenciais e com lições de vida para todos nós. É uma definição de amizade muito completa a partir da palavra «cativar», que, por sua vez, significa, tal como refere a raposa, «criar laços». A amizade é um valor que nos enriquece e nos torna muito mais felizes.
Devemos não só cativar mas também deixar-nos cativar!
O PRINCIPEZINHO E A RAPOSA
Foi então que apareceu a raposa.
- Bom dia – disse a raposa.
- Bom dia – respondeu delicadamente o principezinho, que se voltou mas não viu nada.
- Estou aqui – disse a voz – debaixo da macieira.
- Quem és? – disse o principezinho. – És bem bonita…
- Sou uma raposa – disse a raposa.
- Anda brincar comigo – propôs-lhe o principezinho. – Estou tão triste
- Não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não estou cativada.
- Ah! Desculpa, - disse o principezinho.
Mas, depois de reflectir, acrescentou:
- O que significa “cativar”?
- Não és daqui – disse a raposa – o que procuras?
- Procuro os homens, - disse o principezinho. – O que significa “cativar”?
- Os homens – disse a raposa – têm espingardas e caçam. É muito aborrecido! Também criam galinhas. É a única coisa interessante que têm. Estás à procura de galinhas?
- Não – disse o principezinho – procuro amigos. O que significa “cativar”?
- É uma coisa demasiado esquecida – disse a raposa. – Para mim tu não passas ainda de um rapazinho semelhante a cem mil outros rapazinhos. E não preciso de ti. E tu também não precisas de mim. Para ti eu não passo de uma raposa semelhante a cem mil outras raposas. Mas, se me cativares, precisaremos um do outro. Para mim tu serás único no Mundo. Para ti eu serei única no Mundo…
- Começo a compreender, - disse o principezinho. – Há uma flor… penso que ela me cativou…
- É possível – disse a raposa. – Vê-se de tudo na Terra…
- Oh! Não é da Terra – disse o principezinho.
A raposa pareceu ficar muito intrigada:
- Noutro planeta?
- Sim.
- Nesse planeta, há caçadores?
- Não.
- Isso interessa-me! E galinhas?
- Não.
- Nada é perfeito – suspirou a raposa.
(…)
A raposa calou-se e observou durante muito tempo o principezinho:
- Por favor… cativa-me! – disse ela.
- Não me importo – respondeu o principezinho – mas não tenho muito tempo. Tenho amigos para descobrir e muitas coisas para conhecer.
- Só se conhecem as coisas que se cativam – disse a raposa – Os homens já não têm tempo para conhecer seja o que for. Compram coisas já feitas nos comerciantes. Mas como não existem comerciantes de amigos, os homens já não têm amigos. Se queres ter um amigo, cativa-me!
(…)
- Adeus – disse a raposa. – Vou confiar-te o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- É o tempo que perdes-te com a tua rosa que torna a tua rosa tão importante.
(…)
- Os homens esqueceram-se desta verdade – disse a raposa. – Mas tu não deves esquecer-te dela. Tornas-te responsável para sempre por aquilo que cativas-te. És responsável pela tua rosa…
- sou responsável pela minha rosa… - repetiu o principezinho, para depois se lembrar.
Saint-Exupéry