Bem - vindos ao meu Blog que pretende ser um espaço de partilha e construção de saberes.
Este blog foi criado no âmbito da disciplina de Pedagogia Geral – História, Correntes e Modelos Educacionais, do curso de Educação Visual e Tecnológica, do Instituto Piaget de Viseu, com a coordenação do Doutor Carlos Jorge Correia.

Deste Blog irão constar trabalhos de índole diversificada, como por exemplo: reflexão em torno de temas educativos; trabalhos realizados individualmente ou em grupo; divulgação de actividades através de registos fotográficos ou vídeo; eventuais pesquisas sobre o artesanato; temas relacionados com o património e com a arte, daí o nome "Ensin@rte" - "A arte do ensino e o ensino da arte"

Considero que esta ferramenta poderá ser muito útil, não só como instrumento de aprendizagem, mas também para a nossa formação enquanto cidadãos e educadores de uma sociedade tecnológica e exigente, em constante mudança, que urge acompanhar para não nos sentirmos “obsoletos” e ultrapassados.

Estas novas tecnologias têm um papel muito mais apelativo e, por conseguinte, exercem um contributo fundamental para a promoção do ensino/aprendizagem, principalmente das crianças e dos jovens.

O blog é um instrumento pedagógico de carácter pouco formal que concilia, neste caso, duas vertentes: a tecnológica e a pedagógica.

Nova visão de Guernica

http://www.lena-gieseke.com/guernica/movie.html
O blog ainda está a ser alvo de algumas "afinações". Pelo facto, peço desculpa aos leitores

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

“O MENINO SELVAGEM”, de François Truffaut

Uma camponesa que anda na floresta ouve um barulho de arbustos a mexer, olha e, ao ver um “animal” estranho, foge e vai chamar uns caçadores que se encontram por perto. Esse “animal” estranho era um menino que andava com os pés e as mãos no chão, trepava às árvores, coçava a cabeça e o corpo como os animais e lutava como eles para se defender. Tinha unhas como garras e exprimia-se apenas por grunhidos. Sentindo-se perseguido, o menino começa a fugir, sobe a uma árvore e, por fim, esconde-se numa toca. O caçador faz fumo junto ao buraco e o menino é obrigado a sair. É levado para uma quinta e é entregue aos cuidados de um aldeão que o protege. Depois é transferido para uma prisão onde é muito mal tratado e responde com um comportamento muito agressivo. Só acalma com a presença e o carinho do aldeão que o tinha acolhido.

Em Paris, um médico lê uma notícia sobre este acontecimento e interessa-se por este caso e decide examinar esta criança.
O “Menino Selvagem” é levado para Paris preso por uma trela.
No jornal sai uma notícia que afirma que o “Selvagem” iria aprender os hábitos dos homens civilizados e depressa se deixaria maravilhar com as belezas da cidade. Consideravam, então, ser necessário submetê-lo a uma educação rápida.


O menino selvagem é levado ao professor Itard que, em conjunto com outros especialistas, o observa e considera que, exteriormente, se trata de uma criança normal e terá entre onze e doze anos. Observam as suas cicatrizes, que eram muitas, e consideram que seriam o resultado da necessidade de matar animais para sobreviver. Uma cicatriz no pescoço levou-os a pôr a hipótese de terem tentado assassiná-lo quando o abandonaram, por volta dos três ou quatro anos de idade. Como não reage aos barulhos no escritório pensam que é surdo. No entanto, o aldeão que tinha tomado conta dele na quinta afirmou tê-lo visto voltar-se quando se partia uma noz nas suas costas. O professor Itard afirma que a causa do seu mutismo é o isolamento em que viveu.
O “menino Selvagem” foi levado para um colégio de surdos-mudos, mas é maltratado pelas crianças e pelos funcionários. Foge das outras crianças e esconde-se debaixo de montes de folhas. Quando o querem deitar, refugia-se debaixo da cama. Quando chove fica alegre, corre e salta sob a chuva. A curiosidade pública é enorme ao ponto de se organizarem visitas para ver “O Menino Selvagem”.
Ao contrário dos outros estudiosos, o professor Itard considera que o “menino Selvagem” não é um idiota, é uma criança que teve a adversidade de passar seis ou sete anos na floresta, isolado do resto do mundo. Supõe que tenha sido abandonado por ser filho ilegítimo e propõe-se tentar educá-lo. Com esse intuito, pede autorização para levá-lo para sua casa.
A governanta do Prof. Itard recebe a criança com de ternura. Corta-lhe as unhas, o cabelo, veste-o e, seguindo o conselho do professor, vai sempre falando com ele. O professor verifica que a criança é insensível a todas as manifestações afectivas. O professor decide dar-lhe banho com água bastante quente salpicando-o com água fria e verifica que também é insensível às diferenças de temperatura.
Começa então uma longa caminhada de aprendizagem. O professor ensina o menino a andar verticalmente, a calçar sapatos, a comer num prato e com colher. De inicio atira-se para o chão, mostra-se agressivo e agitado. Mas um dia em que é deixado no quarto ao frio tenta vestir-se. Aos poucos tornou-se sensível à temperatura. Espirra pela primeira vez, o que o deixa assustado.
O professor Itard leva o menino a dar passeios pelo campo, o que o deixa muito feliz. Essas saídas eram antecedidas por certos preparativos sempre idênticos, como pôr o chapéu cabeça, com a camisa de sair à rua no braço e de bengala na mão. Estes preparativos fazem com que o menino fique muito entusiasmado, pois percebe que vai para o campo.
O “menino Selvagem” já revela evolução na sua aprendizagem, já bebe o leite por uma taça, brinca com outro menino, põe a mesa, bate numa taça para dizer que tem fome. Ao observar esta reacção, o professor Itard fica encorajado com os progressos do menino e começa então a fazer alguns jogos de memória.
Um dia, durante a brincadeira, o professor e a Mme Guérin apercebem-se que a criança se volta para trás ao ouvir o som "o", razão pela qual começam a chamar-lhe Victor. Depois de o professor lhe dar uma tigela com o leite, Victor articula um som semelhante à palavra leite.
Passados alguns meses, o professor Itard tenta despertar o ouvido de Victor. Coloca a mão de Victor no seu pescoço para que este sentisse as cordas vocais quando o Prof. articulava alguns sons. Victor aprende algumas tarefas com facilidade, como por exemplo descascar ervilhas.
A certa altura, quando a Mme Guérin arruma a casa, troca o lugar de alguns objectos. Victor volta a colocá-los no sítio correcto. O professor Itard resolve então aproveitar esta sua “paixão pela arrumação” fazendo jogos de memória visual aplicados na aprendizagem da escrita e da leitura. Quando Victor realiza bem as tarefas propostas, o professor recompensa-o com um copo de água. Victor gosta muito de beber água junto da janela, olhando para o campo, como se nesses momentos de prazer procurasse juntar os dois únicos bens que perduraram à perda da sua liberdade.
O professor Itard tenta dar um passo maior ao apagar o desenho dos objectos deixando apenas o seu nome. Victor olha e reage mal, debatendo-se no chão. O professor reconhece que a distância entre passar da representação de um objecto para a sua representação alfabética é um salto gigantesco e ainda muito difícil para Victor. Itard manda fazer um alfabeto de madeira e Victor aprende depressa a ordenar as letras. No entanto, o prof. Itard apercebeu-se que ele usava uma artimanha, amontoava as letras pela ordem inversa da sua classificação alfabética. No entanto fica contente com a astúcia de Victor. Quando o professor mistura as letras ele tem outro ataque de raiva.
Para se certificar da interiorização do sentido da justiça, o professor Itard decidiu castigar injustamente Victor, fechando-o num quarto escuro depois de este ter feito bem os exercícios. Victor, sentindo-se injustiçado, resistiu de uma forma violenta, mordendo o professor e chora pela primeira vez Esta reacção de Victor significava que o sentimento de justo e injusto estava presente nele. O professor Itard considerou então que, ao provocar o desenvolvimento deste sentido, elevava este Selvagem ao nível do homem moral.
Victor começa a colocar as letras de madeira correctamente. No dia seguinte, quando Victor pede para lhe darem leite, o professor deu-lhe as letras de madeira para ele formar a palavra leite. Após umas tentativas, o menino consegue fazê-lo correctamente, o que o deixa muito feliz. O professor consegue que Victor aprenda a relação dos objectos com a sua representação alfabética.
Um dia, o professor descobriu um objecto, um porta-giz, feito a partir de um osso que teria sido construído por Victor. Fica muito contente e orgulhoso perante o objecto inventado pelo “Menino Selvagem”. Mas um dia ele foge e corre para a floresta onde passa a noite. Contudo, já não consegue sobreviver na floresta. No dia seguinte é visto numa quinta a tentar roubar uma galinha. Ao regressar a casa, Victor fez passar as mãos de Mme Guérin no seu rosto. Ao assistir a esta cena o professor faz-lhe uma festa na cabeça e diz:
“Já não és um selvagem, embora não sejas ainda um homem”.


O primeiro objectivo do professor Itard foi a educação/sociabilização, tornar o “Menino Selvagem” num membro da sociedade. Apreender as regras elementares de estar e ser. O desenvolvimento dos sentidos também era fundamental para que as outras etapas tivessem sucesso, só depois seria possível o desenvolvimento das capacidades intelectuais e afectivas. Como resultado da convivência diária com o professor e a governanta, Victor desenvolveu diferentes sentimentos de gratidão e amizade.




A forma como o Homem se comporta é uma aquisição que resulta de diversos métodos de integração social. O que faz com que nos diferenciemos dos restantes seres do mundo animal e que nos confere o carácter humano está muito para lá do legado biogenético deixado pelos antepassados: tem muito a ver com a herança sócio-histórico-cultural de sucessivas gerações. Aprendemos a ser humanos.
Este filme leva-nos a reflectir e a dizer que “ o que distingue os homens dos animais é a sua cultura e esta só pode ser dada pela Educação”
 

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